HISTORIA “PORTUGAL,
TOMO QUINTO.
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HISTORIA
GERAL
PORTUGAL,
E SUAS CONQUISTAS; OFFERECIDA Á RAINHA NOSSA SENHORA
D. MARIA I.
POR
DAMIAÖ ANTONIO DE LEMOS | FARIA E CASTRO.
TOMO V.
LISBOA, Na TyroGRAFIA ROLLANDIANA. 17386.
Com Licença da Real Meza Cenfória,
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INDICE DOS CAPITULOS. LIVRO XVII.
Car. I. Principio do Reinado de D. - Fernando o Gentil, IX. Rei de Por-
g è o o . 5 - - II. O Rei D. Fernando fe empe- nha em huma guerra funella com o
fim de conquiftar o Reino de Caflel- o "a
a. o. au . 19 -- III. Ajula-fe a paz com Caftella , e fegundo cafamento para D. Fernan- do com a fua Infante D. Leonor « defprazer da Leonor de Aragað , e fetratad outros acontecimentos. 38 - - IV. Tratafe da fegunda guerra do Rei D. Fernando com D. Henrique de Caficlla. . o o so -- V. Modos delicados com que fe con- duz a Rainha D. Leonor , fucceffos do Infante D. Joaô, Scifma do An- ti-Papa Pedro de Luna , e nova guerra com Caflella, . . E 9
pos CAPITULOS.
LIVRO XIX.
CAP. I. Da guerra do Rei D. Fernan- do com D. Foa I. de Caftella , e ou- e fuecelios , que della foraô 1 ai
qo H Va alimento - de Yoa aiai Andeiro com a Rainha, e perfegui- çaô contra D. Foað, Mefire de p que 0 repróva.
e - II. Carađer do Rei D. Maus Juamorte, efepultura. . 117
LIVRO XX.
CAP. 1. gg pesa de Portugal no principio do Interregno , que fe feguio á morte do Rei D. rd. j per
=- lI. O Mefre de Aviz , nomeado Governador do Alem- Téjo volta do caminho , mata ao Conde de Ourem Foað Fernandes Andeiro , e be ac- clamado Regente do Reino. 147
-- II O Rei D. Foað I. de Capella entra em Portugal ; o que lhe fuc-
Cê-
ÍNDICE
cede nefta invafað , efpecialmente com
a Rainha, , é hi 168
- = IV. Intenta a Rainha D. Leonor dar morte ao Rei de Caftella. Def- cobre-fe a conjuraçad. Succeffos de- pois della. . à . č . 182 -- V. Varios fuccef]os militares depois da batalha dos AÁtoleiros , e os mais até ao fitio da Corte de Lisboa. 199
- - VI. Continuaçaô do fitio de Lisboa com o mais que aconteceo até os Caf- ne o levantarem, o 214
- - VII. Das expedições que fe feguirad depois do jea id do fitio de Lisboa, e como foraô convocadas as Cortes de Coimbra, ` . 236 Oraçaó do Doutor Joað das Regras recitada na primeira Seflaô das Cor- tes de Coimbra. o o 252
- - VII. Continuaçad das Cortes de Coimbra até fer acclamado Rei o Principe Regente D. Joaô, 261
Dos CAPITULOS
LIVRO XXI
CAP. I. Acclamaçaõ do Rei D.foaô I. chamado de Boa Memoria, X. Rei de Portugal. ; á . 274
-~ - II. Das mais acções, que obrou o Rei D. Joaô I. nas Provincias do Minho, e Beiras . ., 290
- - III. Do que fuccedeo depois da en- trada do Rei de Caftella em Portu- gal. o o o o 307
- - IV. Efcreve je a famofa Batalha de Aljubarrota, que decidio o nego- cio da liberdade de Portugal. 328
-- V. Do mais que fuccedeo no cam- po da batalha , e depois della com a juizo mais provavel a refpeito da Formira de Aljubarrota, ` 346
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pi PFEPPEPFEPFF REOR e ee 2 2 RE RE RE RE Re elled PEE DEANAR a HISTORIA GERAL DE PORTUGAL. LIVRO XVI.
Da Hliftoria Moderna de Portugal,
CAPITULO L
Principio do Reinado de D. Fernando o Gentil, IX. Rei de Portugal,
Na idade de vinte e dous annog Era vulg. fuccedeo D. Fernando o Formofo a 1367 feu Pai D. Pedro , e entrou no domi- nio de hum Reino forte, e focegado, com vaffallos ricos, e contentes, os thefouros Reaes bem providos, e Eni
Q
6 Hisroria GERAL.
Era vulg. do na figura de huma felecidade conf tante, Deimentira6 os fucceflos as beni fundadas efperanças , porque a paz ef- timavel , e as riquezas para aquelle feculo portentofis , cahitad nas mãos de hum genio, que comíigo meímo difpu- tou os exceflos da demafia no aflavel, e noprodigo; no refoluto; esrmroníderas do, na inconftancia , e na defgraça, Foi elle avifado da morte de feu Pai, é veio a Eftremoz para acompanhar © cadaver a Alcobaça ç aonde fe fez O acto da fua inauguração com'as cere- mônias coftumadas. O Rei moço , bi- zarro na prefença , agil nas acções, filho de hum Pai muito amado do Po- vo, entrou a receber cultos officiofos dos corações , que fe promettiad iù- deftectiveis as fortunas em tantas bellas qualidades.
— À economi? domefica lhe levou
` ` gs primeiras attenções: Criando para ` feu Mordomo Mór a D. Joaô Affonfo de Menezes , Conde de Barcellos : pa-
sa Monteiro Mór a Gonçalo Annes:
para Chanceller Mór a D. Nuno Ro- drigues de Andrade, Meftre es
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DE PorTUGAL, Liv. xvir. 9
de Chrifto: para Cevadeiro Mór a Era vulg: * Gonçalo Efteves : para -Falcoeiro a Joa6 Gonçalves: para Guarda Mór a Affonfo Ribeiro : para Porteiro da Camara a Domingos Efteves : para Elcrivad da Puridade a Joa6 Gonçal- ves Teixeira: para Veador a Francif- co Efteves , e outros Officiaes , que até entaô recebiab dos Reis etes em- pregos fem a propriedade , que tem hoje muitos delles. Depois abrio os feus thefouros , e mandou reparar as Praças, e Caítellos, fem poupar def- pezas , com tal força, actividade , € diligencia , como fe tivefle eminente a mais vigoro(a guerra ; provendo tos dos dos Alcaides, que entendeo capa- zes de os (uftentar com honra. Creíceo nos Póvos à complacen- cia na fem demora , com que mandoa vender os votos do filho obediente ao Chéfe vifivel da Igreja , e com que cumprio exactamente o tetamento de feu Pai. Continuando a moltrar a ex- tenfaô do feu animo verdadeiramen- te Real, naô fo admittio no Reino honradamente a- Diogo Lopes Pache- ns co,
8 Hrsrorra GERAL >
Ersvolg. co, e lhe fez entrega de- tudo , quan- to o Rei D., Pedro mandára na ho- ra da morte ; mas ordenou , que aos herdeiros de Pedro Coelho; € de Alvaro Gonçalves Coutinho , tos dos matadores de D. Ignez de Caftro, fe lhes reftituífle a honra , que antes tiveraS as fuas familias , e todos os bens, que haviaô fido de feus pais.
' Dadas efas difpofições , que ne- ceflariamente fe faziaó acceitaveis pa- ra inclinar os animos ao feu author ; D. Fernando feguio o exemplo dos feus Maiores na vifta do Reino, que entað nað incommodava as Povoações pelo trem moderado com que os Reis faziaO as fuas jornadas. Por toda a parte foi a fua liberalidade difpenden- do varios generos de beneficencias , que feriað nas idades recommenda- veis fe o Rei as talhafle mais pelos moldes da prudencia , que pelas me- didas dogofto. .
Efe o tranfportou para pôr ao la-
do com figura de mulher propria a D.
Leonor Telles, que o era na realidade
de Joad Lourenço da Cunha, Rana e
DE PORTUGAL: LIV. XVIII. 9
de Pombeiro. Aquelle homem, que Em vulg. paflou a Caftella , trazia pendente do chapeo a deviza da fua affronta em duas pontas , que diz Manoel de Fa- ria eraô cocar indigno para tremolar na alta fantafia de hum Fidalgo Por- tuguez. Della teve o Rei D. Fernando filhos, que morréraô meninos, a dous Infantes fem nome na Hiitoria ; e a Infante D. Brites, que nafceo em Coimbra no anno de 1372 : foi lua herdeira , e cafou a 14 de Maio de. 1383 com D. Joaô I. Rei de Caftella, para trazer a Portugal huma innundai çað de embaraços, que corrêrað dilu- -vios de fangue , como veremos a feu. tempo. Sendo folteiro teve D. Fernando. ` baftarda a D. Ifabel, que naíceo em 1364, e calou com D. Affonfo Hen- riques , Conde de Gijon ; Senhor de Noronha, filho baftardo de Henrique II. de Caftalla. Efte Rei, que fe eftimu- Jou da indiferença com que feu filho D. Affonfo tratava a efpofa, que elle lhe déra , o defpojou dos (eus Efta- dos , e reduzio a tal extremidade , pi c
yo > Historia GERAL |
Eravulg. fe queixou em Avinhad ao Papa Gre»
gorio XI. , e em Pariz a Carlos V.: Ret de França. Nada aproveitárad ao: Principe jnfeliz eftes recurfos ; porque Carlos VI. qne os concluio, pronun- ciou contra D. Affonfo huma fenten- ça tað fevera , que o tratou de re- belde ao feu Rei , e o mandou fahir
de França. Elle fe retirou para a Ro-
chella , aonde o veio encontrar fua mulher , que com elle viveo a ex- penfas da generofa Vifcondeça de Thouars , que lhes deo a Villa de Marans nas terras de Aunis.
Oito filhos ficára6 defte matri- monio de Aflonfo, e Ifabel , que fo- rað D. Pedro, D. Joað , D. Fernan» do , D. Sancho, D. Henrique, D. Nu- no, D. Martinho Henriques , e D. Conftança, todos com o appellido de Noronha. Alguns deftes filhos do Con- de de Gijon vierað a Hefpanha, aonde cafou o primogenito D. Pedro , que he tronco de cafas grandes, e depois de viuvo foi Arcebilfpo de Lisboa. D. Joa6 morreo no fitio de Belaguer em Catalunha; D. Fernando foi ag
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/ DE PoarocAL, Liv.xvim. qr
Villa Real, origem dos Marquezes Era vulg. : deke titulo , Duques de Caminha, dos Condes de Monfanto, e de Linhã- res; D. Sancho foi Conde de Mira; D. Henrique calou com huma filha de D. Pedro Vaíques de Mello , Con- de de Atalaia; D. Nuno foi marido de D. Mecia de Ribadaneira , e ambos pais de D. Joanna, que cafou com D. Jfoaô Mafcarenhas , de quem defcen- diaô os Marquezes de MontalvaS; D. Martinho Henriques fervio ao Rei de França Carlos VII.; D. Conftança foi fegunda mulher de D. Affonfo , pri- meiro Duque de Bragança , fém fi- lhos. Foi D. Fernando o ultimo Rei varað legitimo do tronco do Conde D, Henrique , e tambem o ultimo dos hoflos Soberanos , que maíceo em Coimbra. As fuas qualidades brilhan- tes faô notadas pelas guerras impru. dentes , que emprehendeo ;- pelas li. . beralidades profufas , que exercitou; pela entrega total da vontade ás pel- foas , de que goftou ; mas antes da Hiftoria fe empregar na narraçaô da + z Te-
Era vulg. re(ulta deítes defeitos , he neceflário. nella melma fazer-fe reflexaõ fobre as
1368
12 Hiısrorra GERAL |
No fim do Reinado precedente deixei eu ao Rei D. Pedro o Cruel de
Caftella em Bayona de Inglaterra, fol- licitando do Principe de Galles D. Duarte foccorros para o reftabeleci- mento no Reino vulurpado por feu ir-: mað baftardo D. Henrique , Conde de Traftamara. Aquelle Principe bel-. licofo , que he hum dos ornatos ma-
gnificos da Hiftoria do feu tempo, e-
junto a feu Pai tinha a alta eftimaçao, que mereciaôd as fuas virtudes fubli- mes : Elle o fez conceber por hum dos empenhos mais honrofos a pro-
tecçao favoravel ao períeguido D. Pe-
dro , até o fazer remontar o fea Thro-
no. Com exercito numero(o, a que a
prefença do Principe, todo efpiritos, communicava muitas almas , marchá- rað elle , e o Rei pelos terrenos de Navarra, e entráraô por Caítella, Os fucceflos defta expediçao , como per- tencentes à Hiftoria daquella Monar-
quia , nós lhe nað daremos mais ex-.
ten-
DE PORTUGAL, LIV. XVIII. 18
tenfað , que a neceflária para ós pren- Era vulg.. dermos no fio da nofia. | Atacárad-fe os dous exercitos nos campos de Naxera; mas como o Prin- cipe de Galles trazia a fortuna ao feu foldo, e com a mefma que o acom- panhava em França, veio a Hefpanha : -fem embargo do valor deímedido das trópas de D. Henrique, e das gentile- zas » que obrou pelo feu braço , elle foi derrotado, o Marifcal de Guefclin prifioneiro, muitos os mórtos, € fe- sidos. Succedeo efta batalha a 6 de Abril no ânno antecedente de 1367, D. Henrique depois de tudo perdido, tornou a bufcar o refugio de França para dever ao feu Rei fegundo ampa- ro contra D. Pedro , que defenfreou a crueldade com a viétoria, quando a devia fazer hum eftimulo da brandura. Os Fidalgos, que lhe cahíraó nas mãos; mandou fem piedade degollalos, e para executar o mefmo nos prifionei- ros dos Inglezes, inftou com o Prin- cipe ordenafle, que lhos entregafiem por baixo reígate, com o pretexto de que em feu poder os tinha: mais fe- gu-
14 HISTORIA GERAL `
Era vulg. guros. O Principe generofo, que ens tað acabou de lhe conhecer os fundos do animo, lhe refpondeo com os mo- dos graves » que lhe infpirava a cles mencia : Agora que vos vejo vences dor , vos contemplo chegado à con- juntura de perder o Reino; como naĝ attrahis corações, nað podeis fer So- berano ; fe zombais da vida dos hos mens, nem eu, nem o Rei meu Pai poderemos ajudar-vos. de
De nada aproveitou efta adverten» cia pathetica de tal Protector em con- juntura tað critica. O Principe , que com o Rei elava em Burgos , lhe requereo o cumprimento do T'ratada na paga dos foldos , na entrega. de Bifcaia , e outras terras ; que pro- mettera a Inglaterra pelo feu reftabes Jecimento. Servindo-fe dete motivo y com apparencias , de que para cum- prir, tudo lhe era neceflario ir a To- Jedo , e Carmona, deixa -ao Principe em Burgos para a tudo lhe faltar. As terras de Bifcaia mandou ordens aper, tadas , para que aos Commiflarios Ine
glezes nada fe entregafle; e nað pos den-
sye
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DE PORTUGAL, Liv. XVIII. Ig
gendo conter-fe no exercicio da tyran- Ers vuige pia , elle meímo andou huma noite - por Carmona com as fuas patrulhas, recreando-fe de paflar á efpada todas as pefloas , que entendia faccionarias de D. Henrique. =- | Com o mefino femblante paflou a Sevilha , levando na fua vã-guarda o terror, que efpantava todas as claf- fes de vaffallos. Daqui enviou a Por- tugal o feu Chanceller Mór para ra: tificar as pazes com o Rei D. Fer- nando. O Principe de Galles , efcan- dalifado. de hum proceder tað eftranho a toda a confideraçaô , nað querendo perder em Caftella mais tempo , e. gente , que fe lhe diminuia com as - moleflias da Eflaçaô, fem vêr, nem fe defpedir do infeliz D. Pedro , fe fez na volta de Guiena ; levando por, fruto da' jornada, o arrependimento; D. Henrique , que efperavá em Fran- a o mefmo , que vio fucceder , e Caftella defafombrada da corage do Principe Inglez; em Setembro de 1367 com o foccorro dos Francezes veio dar ás fuas pretenções , e aos feus “o E ` ami-
16 Historia GERAL
Rea wilg.: amigos huma alma nova. Por varias partes de Caíftella andou elle ganhan- do terras, e vontades , até fe apre- fentar fobre Toledo . que atemorifa- da da crueldade de D. Pedro, naô fe atreveo a recebello como defejava.
Soffreo Toledo hum íltio de dez mezes com conftancia heroica, e re- fiftencia incrivel a huma fome extre- ma. Determinou D. Pedro foccorrel- la a todo o rifco, e com o feu ex- ercito chegou ao Caítello de Montiel; D. Henrique quiz fiar a fua fortuna de huma forpreza , e antes que feu ir- mað o prevenifle, marchou a toda a diligencia para o atacar na madruga- da. Os primeiros inveítidos, e derro» tados foraô os Mouros auxiliares, lo- go as trópas do Rei , que temerolo de perder a liberdade , ou a vida no alcance , fe recolheo no Caítello de Montiel. Diz o Padre Fr. Manoel dos Santos no VIII. Tomo da Monarquia Lufitana com huma politica, que der- rota na verdade a alma da Hiftoria , que no Caftello de Montiel fora o Rei D. Pedro morto por engano, Só a
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pe PortudaL, Liv. vir. 2%
le` penfou efte acao, que foi revel- Eta Ei tido de todas as cireunftancias preme- ditadas, que eu vou a referir. Afflião D. Pedro por fe ver cers- cado , fem efperança alguma de foc- corro, nem de refugio, negociou com o Marifcal de Guefclin a fua liberda- de por meio de comfideraveis promef» fas. Guefclin fez a D. Henrique fabe- dor da negociagað , e fe convencio- náraô com o fegredo , que foi fó pa- ra elles. O certo le , que D. Pedro veio à tenda do Marifcal com a fe- gurança de quem fiava a Pefloa da fua fé : que eftando nella defarmado , com o acafo prevenido chegou D. Henri: que , e que travando-fe de razões, pafláraõ ás mãos. D. Pedro, que era muito forgofo, levou a Henrique de- baixo. Dizem os Chroniftas Caftelha- nos, que Guefclin nefte paflo , dizens do: Nað tiro Rei, nem ponho Rei, mas ajudo a meu Senhor : mudou à poftura dos combates, e pôz com vans tagem a D. Henrique. Outros que- rem , que efta manobra foffe feita por Fernaô Sanches de Toar. D. Hen-, TOM, V. B ri-
-18 HisrorIA GERAL -
Em vulg. rique , vendo-fe com fuperiodade, 1369 por engano, tirou de hum punhal, e fem lhe fazer horror o fagrado da Ma- geflade abatida , matou a punhalladas. o irmaô Rei , de quem naíceo vafl-
fallo.
Defta maneira , na idade de 34 annos , acabou a fua vida o Rei D. Pedro ás mãos de hum fratricida: Ca- - taftrophe, que encheo de horror aos Principes defintereffados da Europa , eípecialmente os das Hefpanhas , que logo fe alliára6 para vingar o fangue Real, nað ficando de fora o Rei Mou- ro de Granada , amigo de D. Pedro. Que a ambiçaô teve huma grande par- te nefte zelo, os effeitos o moltrárad ; e o titulo de ufurpador em D. Hen- rique era hum pretexto bem efpecio- fo para muitas ufurpações. Os Reis de Navarra, Aragaôd , e Granada nað ia tempo em fe lançar fobre as
raças, que podiaô fazer mais reípei- taveis as fuas fronteiras, e efte era o unico direito da conquifta. O Duque de Lancaftro, filho de Duarte de In- glaterra., que cafou com D. Conftan- ça,
— mem a , CN ce ml a mm rm
DE PortTuGAL, Ltv. xviir. 19
£a , a mais velha dos filhos do Rei Eta volg D. Pedro havidos em varias mulhe- tes , pelo meímo tom com que exa- gerava a dor da morte injuíla de feu fogro , perfuadia a infallibilidade do feu direito ao Throno vago. Portus gal, como mais vilfinho, meditava a conjuntura favoravel aos feus intere(s fes, e fem medida talhou huma vaf- ta extenfaô de idéas , que perdêrað o proprio pelo defejo de haver o alheio, como eu paflo a moftrar no Capitu- “Jo feguinte,
CAPÍTULO IH.
O Rei D. Fernandp fe empenha em huma md bg com ofim de conquiltar o Reino de Caftella.
Cox femelhangas do grande Ale-
xandre de Macedonia , o- nofio Rei
D. Fernando principiou a guerra con-
tra Caítella , dando tudo, e refervan-
do para fi a efperança, Elle repartia
tanto por. cada Caftelhano defconten- - B ii te
j
ao Historia GERAL
Era vulg. te de D. Henrique , que vinha offes
recer-fe ao feu ferviço , que fe def- tribuifle a ametade por meia duzia de
Portuguezes , veria feis baluartes de
firmeza na face do inimigo. Elgueceo- fe D. Fernando , de que feu Pai o Rei D. Pedro, tio do cruel de Caf- tellas, reconhecêra a D. Henrique, e com elle celebrára hum Tratado de paz, e alliança. Agora D. Fernando o injuriava com os epithetos de ufur- pador , fratricida , traidor , intruío 5 e abrio a porta aos defcontentes , que: lhe roubárad a cafa propria com a in- duftria das efperanças , que lhe fizerað conceber do dominio de hum novo Reino. Elle deo quinze Villas a D. Fernando de Caftro Xerés , cunhado do Rei Henrique : nove Villas, o Condado de Arraiolos, e o emprego de Condeftavel a D. Alvaro Peres, irmaô do dito D. Fernando : dezafeis Villas a D. Fernando Affonfo de Sa- mora: cinco Villas a D. Mendo Ro- drigues de Seabra : fete Villas a D. Gonçalo Martins de Caceres : duas. Villas a D. Affonfo Gonçalves : feis. E dd “vil
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DE PORTUGAL, Liv. XVIII 21
“villas, que repartira6 entre fi D. Joa6 Eta volg “Fernandes de Andeiro , e D. Affonfo de Baeza: quatro villas a Vafco Pe- -yes de Camões, progenitor do gran- de Poeta defe apellido : feis villas pas: ra amigavelmente pofluirem D. Pedro Affonfo Giron , e D. Affonfo Peres : duas Villas a D. Lopo Gomes, e ou- tras duas a D. Affonfo Lopes : tres villas repartidas por D. Lopo Rodri- gues , por Gonçalo de Agujar , por D. Affonfo Moxicá , e por D. Paio Rodrigues : duas Vilas a D, Rodri- go de Villegas : fete Villas a D. Af- fonfo de La-Cerda, além de innume- raveis gratificações pecuhiarias , com que ficou Portugal em poder dos Caf- telhanos antes de fazer a guerrá a Caf- tella. | E Efes grandes homens , que fe viraô tað remunerados fem mais me- recimento , que a liberalidade natural de D. Fernando, nenhuma dúvida ti- verað em preferir o ferviço , e refi- dencia de Portugal ao amor, e com- modidades da propria Patria, que nað -era de mãos -taô rotas. Seguiraô o feu a CXs
N
22 - HisrorIA GERAL E
Era volg. exemplo muitas Cidades, e Villas de
Caftella , que reconhecendo no mefe mo Rei a legitimidade do fangue do feu Santo D. Fernando , lhe efcrevê- rað fubmettendo-fe ao feu dominio, e pedindo as defendefle como Senhor da tyrannia de hum intrufo. Galliza, e as terras de Lead forað as mais em- penhadas nos rógos, que encontrárad a acceitaçaô tað facil , como os feus paizanos achavaô a liberalidade fran- ca. À eftas offertas do Reino, e das pefloas fabia a politica de D. Fernan- do occultar as intenções com a indif- ferença , dizendo : Que Rei de Caf- tella fofle quem Deos quizefle ; que elle nað pretendia mais, que fazer os ultimos esforços em vingança da mor- te de feu primo o Rei D. Pedro. | | Refoluto D. Fernando a romper,
mandou-fe juftificar, e expôr ao Pa- pa, e Principes da Europa o direito, que tinha á Coroa de Hefpanha ufur- pada por hum baftardo. Ajuftou paz por cincoenta annos com o Rei de Granada, que nað a obfervou, com-
pondosfe pouco depois com D. Hen- |
ri-
— meee es a mi LD o -
DE PORTUGAL, Lrv. XVIII., 43
rigue. O Rei de Araga6 mandou Em- Era vulg baixadores a Portugal com o meímo fim, cajultáraô a divifa de Caftella em forma, que ao Rei de Aragad fi- earia o Reino de Murcia, o fenhorio de Molina , e outras Praças.: a D. Fernando o refiante de Caftella , e Leaô com titulo de Reino , unido á Coroa de Portugal: que efta pagaria a Araga6 por tres annos 350v lanças para a guerra: que a Infante D. Bri- tes, irmã do Rei D. Fernando , cå- faria com o Duque de Girona, Prins cipe herdeiro de Aragad. Com eftas diífpofições fe declarou a guerra, que o Rei principiou no mez de Junho com o rendimento de Tuy, Compof- tella , e Corunha, que nos fez agora prefente do feu natural Joaó Fernan- des Andeiro , depois Conde de Ou- rem, e elle entre nós a grande figu- ra , que tem de fazer repre(entações varias no noflo theatro até confum- mar o ultimo auto da Tragedia. A noticia das marchas forçadas som que D. Henrique vinha acodir a
Galiiza , naó deixou mais ago r
c
24 . Historia GERAL
é 14 vulg.” Rei (que paflou áquelle Reino mais-
em tom de triunfante , que de guere’ reiro ) que o neceflario para fe em- barcar em huma das fuas Galés , e res. colher-fe ao Porto, deixando reforça- da a guarniçaô da Corunha. D, Hen- rique:, que com as fuas altas quali dades adquirio a anthonomafia de Ma-, gnifico. , nað lhe fazendo efpecie os. outros inimigos , quiz moftrar o feu re(entimento a Portugal, atacando as Praças , que feguiraôd a fua voz , 6 efcolheo a de Samora para defcarre- gar nella os primeiros golpes. O (eu esforço encontrou a refiftencia dura 5 e ou fofle por nað arrifcar a reputa- cad. e as forças, ou por acodir á in- vafaô. de Galliza ; elle levantou o fi- tio , e refolveo-fe a: decidir comnof- co a fua fortuna em huma batalha. Como D. Fernando fe havia retirado, foi facil a D. Henrique focegar a per- turbaçaô de Galliza ; entrar por Por- tugal devaftando a Provincia do Mi- nho , e fitiar aCidade de Braga, fem os. Portuguezes apparecerem na campae nha, nem fe opôr aos feus defignios. sisi Con-
N
DE PORTUGAL , Liv. XVII. 24
«e Conta o nofo Agiologió, que SAUE nefta occafiað as almas de D. Affonfo Sanches , e de D. Therefa Martins, Fundadores do Convento de Santa Cla= ya de Villa de Conde , fallárað dos le~ pulchros dos feùs córpos á Prelada 5 advertindo-a fe retirafle com as fuas Freiras para o Porto ; porque tia ma- nhã feguinte os Caftelhanos faqueariaó a Villa, nað fuccedefle profanar-lhes o facrario da pureza, Rendeo-fe Braga por falta de foccorro:;. e D. Fernan- do, com a meíma facilidadé com que rompeo a guerra , offereceo agorà a paz ao Marifcal de Guefclin por meio de hum Mercador eftrangeiro, que O conhecia. Foi elle bem: recebido da Rei , que o mandou com.o mefino Marifcal tratar os ajuftes, que fe naĝ effeituárað , com o Conde de Barcel- los. Quando D. Henrique acabava de render Bragança, e outros Lugares na Provincia de Tras-os-Móntes , foi avifado da perda , e deftruiçao da imr portante Praça de Algezirá pelo Rei de Granada, que fe fervia da fua aufencia para avançar conhderaveis as conqui Fo
NE
Era vulg. 1370
26. . HISTORIA GERAL Efta noticia defconcertou ás mes
didas de D. Henrique, que Houve de: abandonar a empreza de Portugal para. refitir á divería6 de Granada. O mo-
vimento nað efperado deíta retirada fez lembrar ao Rei D. Fernando, que as armas de Caftella nað. confen- tiaô divifaô, e por ifilo devia elle con- tinuar a guerra com vigor na fron- teira, e fazer declarar a D. Pedro de
= Aragaô pela fua. Para o primeiro de-
fignio áugmentou o número dos Offi- ciaes, e das trópas ; pedio foccorros a Inglaterra , que lhe foraô manda- dos com o Conde de Cambrix por Commandante , mais a deftruir , que a fer proveitofos a Portugal; e apref- tou huma grofla armada de 30 nãos; e 32 galés para atacar as coltas de Andaluzia,
Para o fegundo projecto mandou a Aragaô os. Bifpos D. Martinho de Evora, D. Joað de Sylves, Fr. Marti- nho, Abbade de Alcobaça, e o Con- de de Barcellos D.Joaô Telo de Me- nezes com huma efquadra de galés , e prefentes, que tudo refpirava grande-
Zàs
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DE PORTUGAL, Liv. XVIII. 27
ga, e magnificencia , para ajuftarem o Era vulg. cafamento com a Infante D. Leonor, e a conduzirem a.Portugal. Foi efte o primeiro malogrado ¢afamento de D. Fernando, que jufto , e celebrado com todo o prazer do Rei D. Pedros Pai da Infante , fuppofta a difpenfa, que para elle havia conceder o Papa ; fem fe encher efta condiçaS , nad conveio o Aragonez na partida de fua filha pára Portugal , que anciofae mente a defejava. . Accendeo-fe a guerra por todas as noflas Provincias para defaggravarem com muitos golpes a hum tempo + os que deixáraó de dar os braços ocio- fos na campanha paflada. Pela do Alem- Téjo entráraô os Infantes D. Joaô, e D. Diniz, que arrazáraô todas as obras exteriores de Badajoz. Pela meíma pat- te penetrou a terra com goo homens o bravo Gil Fernandes, fazendo huma preza tað confideravel, que oecupava huma legoa de terreno. Para disfarçar O feu pouco poder , e falvar a preza fem o perigo de o virem reconhecer , fingio-fe, ẹ fe fez tratar pelo un
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Eri vulg. D, Joab, efpalhando a voz das grans
des forças , que o feguiaõ. Eltratage» ma: que conteve os Caftelhanos , e que lhe fervia para introduzir no Rei- no toda a preza fem algum fuf- to. Os Senhores da Familia de Caflro em Galliza (uftentavaó as nofias Pra- ças naquelle Reino, e nað davað def- canço às armas dos inimigos. Pela Bei- ra comprio os (eus deveres o Frontei- “yo Lourenço Gomes do: Avelar com as conquiftas de Cerralvo , S. Felices, e Inojofa. | é
No rio de Sevilha entrou a noffa armada das galés , aonde efteve muito tempo furta fem acçaô. Determinou O Rei de Caftella furprendella pela fome, que já principiava a fentir ; e man- dou ao feu Almirante D. Ambrofio Bocca-Negra com huma grafia efquadra
a impedir-lhe a fahida para render à
nofla fem peleija. Nós nos viamos em eítado «de nað poder combater, nem fubliftir , e esforçamos as induítrias para nos falvar. Como a efquadra ini- miga formava huma linha, que tomas va toda a bocca do rio , epen mos : U-
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húma noite efcura: poftâmos as galés Era vulg.. em ala com a proa de cada huma fo- bre a popa da outra: a chuíma com os ' remos promptos a efperar o final pas ra a voga: accendemos o fogo em dous navios carregados de azeite į al- catra , e outras materias combufli- veis : deitamollos ao tom da corrente rápida , que deícia , e foraô as galés em voga furda , feguindosos no mo- vimento : hiað elles cahindo fobre a armada Caftelhana , que temerofa do perigo ; abrio pelo centro para dar pafilo aos brulotes , que já eraô dous incendios. Entaô os noflos , apertan- do os punhos , a toda a força da vos ga arrancada , em pouco efpaço fahi- Tað pela abertura ao mar, e fe poze- rað em falvo, | Dous fitios defta campanha fo- yað as acções mais gloriofas de toda ella. Sobre Cidade Rodrigo veio o Rei de Caftella em pefloa com exer- cito poderofo , publicando que efta: empreza era digna do feu caradter. Em. dous mezes de ataque vigorofo achou
fempre. taô prompta a refiftencia, que,
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Era vulg. por nað arrifcar as forças, aonde amols gava a opiniaó , teve de levantar o útio , fervindo-lhe as incommodida- des do Invemo de pretexto para es- friar no conceito dos homens oardor da nofla corage. Mollrára6 os fuccef- fós ,. que nað os acafos , mas o es- forço fuftentoe Cidade Rodrigo na nofla obediencia até ao Tratado da paz, em que por convençaô a cede- mos. À retirada do Caftelhano defcon- certou as medidas do Rei D. Fernan- do , que fe fazia preftes para o invel- tir no campo, Por nað kítarem ocio- fas as armas , que tinha: juntas, divi- dio o exercito em tres corpos para en- trar em Caítella por partes difterentes. Os eftragos furaô infeparaveis deltas invasões; mas dellas nað fe recolhêrad outros intereffes , que derramar o ter- ror nas terras, que feguiað a voz de D. Henrique. | |
Sua mulher a Rainha D. Joana foi a authyra do fegundo fitio; e emu- la da gloria do marido , a quiz adqui- rir na conquifta de Carmona, que de- pois de lhe dar a eftimaçaô de Herois
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na, ella julgava o meio mais efficag Efa wulg. para o reftabelecimento dos negocios do Reino, Na téfta das fuas trópas, a que dobrava os alentos a façanho(fa prelença mulberil , mandava ella ob- fervar tantas formalidades militares, e avançar combates tað vigoro(os , que nað fe podiaô conceber o vigor, ea dexteridade. Mas era Commandante defta Praça por Portugal o bravo D, Martim Lopes , Graô-Meftre da Or- dem de Calatrava, chamado por ou- tros D. Affonfo Lopes de Texeda , que na formofura da defenfa obrou gen- tilezas tað cheias de heroicidade , que a todas as memorias fizerad O feu no- me refpeitavel. Na6 entendeo a vaida- de da Rainha , que refiftencia feme- lhante fe atrevefle á {ua face , fenað macillenta pelo medo , já vermelha pela colera , que lhe accendia a con- fiança. Ella propoem a D. Martinho, que fe renda, antes que o furor das armas: o obriguem a hum arrependi- mento a que ferá inexoravel a clemen- cia O Heróe , que fabia dar lugar á civilidade na maior fortaleza do ars e dor,
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Era vulg. dor, lhe reípondeo: Que o reípeito;
nað os luftos , lhe movia os defejos de obfervar as fuas ordens; mas que hum embaraço taô confideravel , co- mo era a honra da fidelidade promet- tida ao Rei de Portugal , que elle reconhecia legitimo -de Caítella , lhe prendia o paflo para o dar em outro ferviço, que nað foffe o daquelle Prin- cipe: Que lhe concedefle tempo para o avilar das fuas pretenções, na cer- teza , de que nað faltaria á execuçad das determinações, que recebefle. Condeífcendeo a Rainha com & propoíta de D. Martinho , pedindo. dous de feus filhos em refens , que a General politico nað duvidou entregar á delicadeza da fé de huma Princeza , que fe intitulava Rainha. Immediata- mente deípachou avifos a D. Fernan- do do eftado de Carmona ; da refolu- gaô das trópas em a defender até a ultima extremidade ; mas que era nes cefario Sua Alteza nað lhe demorar. os foccorros , que fem elles, a conf- tancia da fitiante renderia inuteis os esforços dos fitiados. D. Fernando y , que
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xue tinha o exercito prompto , e de- Età vulg; via marchar fem demora a huma ace çað tað importante , gaítou o tempo em confelhos fem deliberaçaô ; con- tentando-fe de mandar reforçar a Praça com 7o homens. Se elle quiz afim perfuadir aos inimigos, que os def- prezava, a fua facilidade o enganou, e de nada lhe valeo a conftancia pal- mofa com que a politica de D, Martt- nho prefumio remediar a mal adver- tida do Rei D. Fernando. | A Rainha, impaciente, por cone cluir huma empreza, que olhava co- mo obra toda fua, apenas efpirou o: prazo concedido a D. Martinho lhe re- querco a entrega de Carmona. O bras vo Heróe, que media pela fua intre- pidez a de toda a guarniçad ; que tinha firmado na idéa deixar ao mundo hum exemplo immortal de fidelidade, reípondeo á Rainha, que elle já mais. coneebêra penfamentos de fe render , fempre refoluto em fuftentar huma defenfa com fuperioridade infinita ao valor, com que fofle atacado, A fes zeza defa reípoíla foi hum. eftrago da TOM. V. G mo-
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Era vulg. moderaçaS da Rainha, que fem outras
lembranças , fenaő as dete aggravo, o concebeo em tal tom de injuriofo, que lhe arraítou o animo inteiro para a vingança a qualquer cufto. Ella man- da conduzir á vifta de D. Martinho. os dous filhos, que élle lhe mandára em refens , bem longe de imaginar, que huma mulher havia fer authora da atrocidade , que vou a referir. Ella o faz notificar , que eleja, ou a entre- ga de Carmona, ou fer teftemunha da morte , que a punhaladas manda dar na fua face aos dous pedaços tenros da fua natureza,